28 de abril de 2017

Motociclista é a bola da vez

Por que as políticas públicas do Governo do Estado, em prol da segurança de trânsito, estão cada vez mais priorizando o investimento no motociclista? O Analista de Trânsito comenta:


Photo credit: apothecary07 via VisualHunt / CC BY-NC-SA

O número de indivíduos que dirigem exclusivamente moto representa apenas 1,6% do universo de condutores de Pernambuco.

Contudo, 60% dos condutores habilitados no Estado além de conduzir veículos de quatro rodas são motociclistas: um índice superior ao de pessoas que dirigem exclusivamente automóvel (40,9%). Os Dados são da Unidade de Estatísticas do Departamento de Trânsito de Pernambuco.

Com relação à frota veicular, o quantitativo de motos (1,06 milhão) está quase igual ao de automóveis (1,2 milhão).

Na lista das dez infrações mais cometidas, nove podem ser cometidas por motociclistas. E a 11ª infração mais cometida é o não uso de capacete, infração que ocasiona a suspensão do direito de dirigir do mesmo jeito que pegar o volante após ingerir bebida alcoólica.

De acordo com o DataSUS, Pernambuco registrou 833 acidentes de moto com vítimas fatais, em 2014. A maior parte (267) em Recife, seguida por Petrolina (74), Caruaru (32) e Arcoverde (19).

Dados do Sistema de Informação sobre Acidentes de Transporte Terrestre mostram que, em 2016, houve 27.484 acidentes envolvendo motocicletas,  em Pernambuco, o que representa 74% do total de acidentes de transporte terrestre.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, o Estado gasta por ano cerca de R$600 milhões no tratamento de acidentados com moto.

Essas informações revelam que o motociclista deve estar na mira das políticas públicas de Pernambuco, muitas das quais dependem da contrapartida federal.

2016 foi um ano em que Pernambuco intensificou a fiscalização de trânsito como demonstra a criação de novas formas de blitze, a exemplo da Operação Rota de Fuga, criada pelo Detran-PE para escapar do modelo tradicional da blitz estática.

O município de Recife também acertou ao implantar tecnologias que permitem flagrar conversões em local proibido, uma das manobras que mais colocam em risco a vida do motociclista.

Mas, a intensificação da fiscalização fica prejudicada sem o investimento complementar em pessoal para julgar os processos dos quais resulta a penalidade de suspensão do direito de dirigir. Atualmente, contam-se nos dedos os profissionais responsáveis por julgar todos os processos de suspensão do Estado.

Nesse caso, a contrapartida do Governo Federal é fundamental no sentido de acelerar a efetivação da mudança do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), cortando pela metade o número de etapas recursivas para os infratores e estendendo o poder de julgamento dos processos de suspensão para os diferentes órgãos de trânsito e, não somente para o Detran, como é hoje.

O Governo Federal também precisa adotar medidas, a exemplo de multas ou cortes orçamentários, com o objetivo de pressionar os municípios a criarem seus próprios órgãos de trânsito. É impossível ao Detran-PE dar conta de fiscalizar o Estado de ponta a ponta com seu número reduzido de agentes de trânsito.

O registro e emplacamento dos ciclomotores (cinquentinhas), iniciado em 2015, foi um grande acerto tanto do Conselho Nacional de Trânsito quanto do Detran-PE.


Educação de Trânsito

A Educação de Trânsito tem sido feliz ao atacar simultaneamente duas pontas: o condutor e os centros de formação de condutores. Para isso, o Detran-PE tem apostado na parceria com o setor privado.  Importante tal estímulo do Órgão para que empresas que comercializam motocicletas adotem políticas de redução de danos, oferecendo cursos de pilotagem defensiva com infraestrutura de ponta.

A outra ponta são os instrutores dos centros de formação de condutores. O Detran-PE firmou convênio com a Honda para atualizar 1500 instrutores de aulas de motocicleta.

Serão 43 turmas até o mês de novembro, espalhadas em todas as microrregiões do Estado nos seguintes polos: Recife; Timbaúba, Palmares, Caruaru, Garanhuns, Salgueiro, Arcoverde, Serra Talhada e Petrolina.

Aulas teóricas e práticas abordarão temas como: postura e equipamentos de proteção, condução em vias expressas e rodovias, estratégias de segurança, frenagem e mudança de direção, conduta em curvas, pilotagem em condições adversas como dirigir na chuva e à noite, deslocamento em grupo e cuidados na condução de passageiros.

É importante que o Conselho Nacional de Trânsito legisle para sanar a ausência de norma que exija o uso de roupa e calçado apropriado para motociclistas, coisa que, incoerentemente, é exigida somente para quem usa moto para o transporte de cargas e passageiros.

Podemos arriscar uma tabela de falhas e acertos do Governo do Estado/Governo Federal e, consequentemente, dos órgãos executivos de trânsito (tanto o Denatran quanto o Detran) no que diz respeito às políticas de promoção da segurança de trânsito:



Medida/Período
Ação do Governo Federal
Ação do Governo Estadual
Registro e emplacamento das cinquentinhas/iniciada em 2015
Ok Ok
Pressão (multas e cortes orçamentários) para que os municípios montem seus órgãos de trânsito
Em falta
Não depende do Governo do Estado
Aumento do pessoal apto a julgar processos de suspensão do direito de dirigir
Em falta
Em falta
Legislação que regulamente a indumentária de motociclistas
Em falta
Não compete ao Detran
Cursos de pilotagem defensiva para motociclistas
Em falta
Ok
Capacitação de instrutores de aulas de motocicleta dos Centros de Formação de Condutores
Em falta
Ok

Atualizada em 30-04-2017

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