Em comemoração à Semana Nacional do Trânsito (SNT), o
Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco lançará, no dia 23 de setembro,
o projeto “Condutor do Amanhã”.
Em um mini-circuito, contendo sinalizações verticais, como placas
e semáforo, e horizontais, a exemplo da faixa de pedestre, pré-adolescentes e
adolescentes, sob supervisão direta da Coordenadoria de Educação do DETRAN-PE, poderão
percorrer o espaço de kart. O objetivo é familiarizá-los com as situações que
enfrentarão no futuro ao se tornarem condutores habilitados.
É uma importante semente lançada no terreno da formação dos
jovens, mas que depende de outras iniciativas para maximizar a produção de
frutos.
Como observou o mestre em sociologia, escritor e consultor
Internacional em Educação de Trânsito, Eduardo Biavati, durante a palestra de
abertura da SNT 2016, proferida em Recife, na sede do DETRAN, o perfil do
condutor do amanhã está diretamente ligado ao comportamento dos jovens na
virada da infância para a adolescência.
Com base em dados da pesquisa Saúde Escolar, feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com alunos na faixa
etária de 13 a 17 anos, Biavati conclui que os motoristas imprudentes são
reflexo de adolescentes inativos, leia-se: adolescentes que não praticam
atividade física. Não fazem esportes, e principalmente que não utilizam o corpo para se locomover. Os dados mostram que o número de jovens ativos caiu,
nos últimos anos, de 40 para 30% enquanto o índice de inatividade entre os
jovens subiu de 28 para 38%.
“O jovem cai de paraquedas no veículo, sem ter sido ciclista
e nem mesmo pedestre. Desde pequeno é levado de um lugar para outro de carro, o
que prejudica seu potencial de geolocalização, de atenção ao ambiente e de
reação”, explica o estudioso.
Sem ter experimentado como é estar na pele de atores de
trânsito mais vulneráveis, como o ciclista e o pedestre, os jovens se tornam
condutores sem desenvolver uma capacidade fundamental: a de avaliar a variação
dos impactos de suas ações sobre os outros e sobre si mesmos.
A pesquisa do IBGE traz
um dado preocupante: 32% dos jovens na faixa dos 14 anos costuma dirigir, sendo
que 20% nunca usou o cinto de segurança. Se a faixa etária considerada for de
17 anos, o índice sobe para 50%. Além disso, 55% dos jovens entre 13 e 14 anos
já consome álcool, porcentagem que salta para 73% no caso de adolescentes de 17
anos. Os números são praticamente os mesmos quando se comparam os sexos
masculino e feminino. Os números de Recife distam pouca coisa das estatísticas
nacionais.
A saída dos jovens das ruas retira deles o poder de
improvisação. As políticas públicas devem investir na retomada das ruas como
espaço de atividade física e criativa. Hoje, quando perguntamos aos mais jovens
o que é a rua, eles apagam as calçadas do cenário e a resumem ao lugar
destinado ao tráfego de veículos. Sem vivenciar o papel de pedestres, acabam
entendendo que trânsito é sinônimo de velocidade e monopólio dos veículos.
Mas, como prevê Biavati, essa situação está com os dias
contados. “O trânsito está chegando à saturação. O patamar de
velocidade precisa ser reduzido para a casa dos 30km/h. Só assim, haverá
redução no índice de mortes. Num impacto a 30 km/h, o índice de mortalidade é
de 1 para 10. Acima dos 50 km/h, 8 em cada 10 pessoas morrem ao ser atropeladas”.
Com base nas reflexões de Eduardo Biavati, é possível
afirmar que o DETRAN tem acertado ao combinar ações de trânsito voltadas para
públicos específicos (como é o caso do projeto Condutor do Amanhã) com a
fiscalização também focada, direcionada a segmentos como motofretistas e condutores
de transporte escolar. Mas, muita coisa ainda precisa ser feita e os esforços
só terão força pra amadurecer quando as políticas públicas tanto locais quanto
nacionais entenderem que a segurança no
trânsito é um hábito de saúde, estreitamente relacionado aos demais hábitos
humanos.
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