21 de setembro de 2016

O que fazer para que os jovens se tornem futuros condutores responsáveis?




Em comemoração à Semana Nacional do Trânsito (SNT), o Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco lançará, no dia 23 de setembro, o projeto “Condutor do Amanhã”.

Em um mini-circuito, contendo sinalizações verticais, como placas e semáforo, e horizontais, a exemplo da faixa de pedestre, pré-adolescentes e adolescentes, sob supervisão direta da Coordenadoria de Educação do DETRAN-PE, poderão percorrer o espaço de kart. O objetivo é familiarizá-los com as situações que enfrentarão no futuro ao se tornarem condutores habilitados.
É uma importante semente lançada no terreno da formação dos jovens, mas que depende de outras iniciativas para maximizar a produção de frutos.

Como observou o mestre em sociologia, escritor e consultor Internacional em Educação de Trânsito, Eduardo Biavati, durante a palestra de abertura da SNT 2016, proferida em Recife, na sede do DETRAN, o perfil do condutor do amanhã está diretamente ligado ao comportamento dos jovens na virada da infância para a adolescência.

Com base em dados da pesquisa Saúde Escolar, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com alunos na faixa etária de 13 a 17 anos, Biavati conclui que os motoristas imprudentes são reflexo de adolescentes inativos, leia-se: adolescentes que não praticam atividade física. Não fazem esportes, e principalmente que não utilizam o corpo para se locomover. Os dados mostram que o número de jovens ativos caiu, nos últimos anos, de 40 para 30% enquanto o índice de inatividade entre os jovens subiu de 28 para 38%.

“O jovem cai de paraquedas no veículo, sem ter sido ciclista e nem mesmo pedestre. Desde pequeno é levado de um lugar para outro de carro, o que prejudica seu potencial de geolocalização, de atenção ao ambiente e de reação”, explica o estudioso.

Sem ter experimentado como é estar na pele de atores de trânsito mais vulneráveis, como o ciclista e o pedestre, os jovens se tornam condutores sem desenvolver uma capacidade fundamental: a de avaliar a variação dos impactos de suas ações sobre os outros e sobre si mesmos.

 A pesquisa do IBGE traz um dado preocupante: 32% dos jovens na faixa dos 14 anos costuma dirigir, sendo que 20% nunca usou o cinto de segurança. Se a faixa etária considerada for de 17 anos, o índice sobe para 50%. Além disso, 55% dos jovens entre 13 e 14 anos já consome álcool, porcentagem que salta para 73% no caso de adolescentes de 17 anos. Os números são praticamente os mesmos quando se comparam os sexos masculino e feminino. Os números de Recife distam pouca coisa das estatísticas nacionais.

A saída dos jovens das ruas retira deles o poder de improvisação. As políticas públicas devem investir na retomada das ruas como espaço de atividade física e criativa. Hoje, quando perguntamos aos mais jovens o que é a rua, eles apagam as calçadas do cenário e a resumem ao lugar destinado ao tráfego de veículos. Sem vivenciar o papel de pedestres, acabam entendendo que trânsito é sinônimo de velocidade e monopólio dos veículos.

Mas, como prevê Biavati, essa situação está com os dias contados. “O trânsito está chegando à saturação. O patamar de velocidade precisa ser reduzido para a casa dos 30km/h. Só assim, haverá redução no índice de mortes. Num impacto a 30 km/h, o índice de mortalidade é de 1 para 10. Acima dos 50 km/h, 8 em cada 10 pessoas morrem ao ser atropeladas”.

Com base nas reflexões de Eduardo Biavati, é possível afirmar que o DETRAN tem acertado ao combinar ações de trânsito voltadas para públicos específicos (como é o caso do projeto Condutor do Amanhã) com a fiscalização também focada, direcionada a segmentos como motofretistas e condutores de transporte escolar. Mas, muita coisa ainda precisa ser feita e os esforços só terão força pra amadurecer quando as políticas públicas tanto locais quanto nacionais entenderem que a segurança no trânsito é um hábito de saúde, estreitamente relacionado aos demais hábitos humanos.

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