18 de setembro de 2017

O futuro das campanhas de Educação de Trânsito sob a influência do YouTube

Iberê Thenório, um dos mais destacados youtubers da atualidade, afirma que as campanhas de educação de Trânsito podem se tornar mais eficazes se buscarem inspiração nos canais do YouTube. Ele defende também que esse tipo de campanha pode aumentar o poder de impacto se evitar exibir cenas de acidentes e mortes.


Iberê Thenório (canal Manual do Mundo) e Clécio Vidal (canal O Analista de Trânsito)
Foto: Clécio Vidal


Responsável pelo canal do YouTube Manual do Mundo, que conta com quase 9 milhões de seguidores, um acumulado de mais de 1 bilhão de visitas e vídeos que, em média, são vistos por 800 mil internautas, Iberê Thenório foi convidado para fazer a palestra de abertura da Semana Nacional do Trânsito 2017 em Pernambuco, ontem.

Coordenado pelo Departamento de Trânsito de Pernambuco, o evento aconteceu na Associação Honda, em Recife. Segundo a coordenadora de Educação de Trânsito do Detran-PE, Luciana Carvalho,  a escolha do local foi feita com o objetivo de destacar esta parceria entre os setores público e privado,  motivada pelo desejo de levar aos motociclistas,conhecimentos mais profundos sobre pilotagem defensiva.

Segundo o autor do Manual do Mundo, um dos principais fatores para que um canal do YouTube prospere é ser capaz de atingir públicos de diferentes faixas etárias, combinando a capacidade de responder dúvidas comuns a estratégias de comunicação criativas e impactantes.

“Se o Governo faz uma campanha trazendo a letra fria da lei para dizer simplesmente que é proibido andar sem cinto de segurança, provavelmente seu impacto sobre adolescentes será bem reduzido porque este segmento não se sente atraído por abordagens tecnicistas e pela legislação nua e crua. Porém, se você faz um vídeo mostrando o dano que uma pessoa pode sofrer em uma colisão se estiver sem usar o cinto, aí sim a mensagem terá difusão entre os mais jovens.”.

Porém, Iberê Thenório explica que, ao contrário do que se pensa comumente, para causar impacto não é necessário apelar para cenas de terror e morte.

“Fazer um vídeo, simulando o efeito de uma colisão sobre um saco de batatas, dependendo se ele está ou não amarrado pelo cinto de segurança, pode ser mais impactante e educativo que exibir imagens de vítimas de acidentes de trânsito”.

Na mesma linha de pensamento do youtuber, o gerente da Escola Pública de Trânsito, Ivson Correia, destacou que a exploração contínua de imagens violentas em campanhas de educação de trânsito pode causar o que se chama de anodinia, um tipo de anestesiamento sensorial. Em outras palavras, o que, a princípio, é impactante, termina, com o passar do tempo, tornando-se incapaz de atingir o público.

Thenório afirma, contudo, que a ocorrência de situações capazes de causar empatia na audiência, como foi o caso da morte do cantor Cristiano Araújo, podem servir de gancho para se abordar o correto proceder dos condutores de veículos no sentido de preservar a segurança no trânsito.

Nesta perspectiva, a pura e simples menção da lei e das punições para quem a transgride não exerce impacto sobre a juventude que, muitas vezes, questiona a legitimidade das leis de trânsito quando confrontadas com o livre arbítrio do cidadão.

Um dos erros das campanhas é acreditar que podem seduzir simplesmente apelando para o suposto medo que a audiência tem de punições. A empatia, e não o medo, é a alma do negócio, no que diz respeito à eficácia desse tipo de comunicação. 

"Entender o que acontece quando se deixa de usar o capacete ao pilotar uma moto é mais significativo para o jovem do que simplesmente ouvir que é proibido dirigir esse tipo de veículo sem usar capacete ”, conclui Iberê.


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