22 de maio de 2018

Sobrecarga de trabalho aumenta risco de acidentes com motociclistas

O estudo, feito com base em entrevistas com motociclistas acidentados, revela que comportamentos arriscados como dirigir sem capacete e dirigir alcoolizado são reflexo de estresse e fadiga (sobrecarga de trabalho)



Photo credit: Mílton Jung on Visual Hunt / CC BY



Cansaço e estresse são os principais fatores por trás do comportamento de risco que gera acidentes com motociclistas.

Esta é a conclusão da dissertação de mestrado "Sobrecarga de trabalho e comportamentos de risco no trânsito de motociclistas acidentados". A equipe de pesquisadores, da Universidade Federal de Pernambuco, foi formada por Washington José dos Santos, autor da dissertação, Vanessa Coêlho e Gustavo Barreto Santos. O projeto foi orientado pela professora Albanita Ceballos, do Programa de Saúde Coletiva da UFPE.

20% dos motociclistas entrevistados, durante a pesquisa, alegam ter assumido comportamentos de risco devido ao sono ou fadiga.

Já a maioria dos entrevistados, 31,5%, relaciona o comportamento de risco ao uso de bebida alcoólica.

Outros números
  • 40,3% dos motociclistas entrevistados não possuíam Carteira de Habilitação para moto
  • 16,9% não utilizavam capacete
  • 12,9 % assumiram que estavam dirigindo com excesso de velocidade quando sofreram o acidente. 

As entrevistas foram feitas com 104 pacientes da Enfermaria de Traumato-Ortopedia do Hospital da Restauração (HR), em Recife, capital pernambucana.

Segundo o autor do estudo, Washington dos Santos, as afirmações mais comuns durante as entrevistas apontavam para o cansaço como sendo o principal motor de comportamentos de risco.

Eis algumas destas afirmações:

“demanda excessiva de trabalho nos últimos três meses”, “sentiu dificuldades em executar as tarefas de trabalho devido a demanda excessiva nos últimos três meses”, “sentiu-se cansado durante o trabalho nos últimos três meses”, “sentiu-se pressionado a realizar tarefas de trabalho” e “falta de reconhecimento profissional por parte da população”.

A maioria dos pesquisados era do sexo masculino (97,6%), adulto jovem de 18 a 39 anos (81,5%), com dois filhos ou menos (84,7%) e renda média mensal menor que dois salários mínimos (75,0%).

A pesquisa aponta que o uso de bebida alcoólica está diretamente associado ao desejo de mudar de profissão.

Por outro lado, o uso do capacete, de acordo com as entrevistas, é maior entre os motociclistas que não sentem excesso de cansaço enquanto trabalham.


Horários de acidentes de moto

Os dados revelam que o maior número de acidentes de moto ocorreu entre 18h01 e 00h00 (45%), seguido do horário de 12h01 às 18h00 (27%). O tipo de acidente mais frequente é a colisão com veículo automotor (72,6%).

“Muitos dos acidentes de trânsito podem ser caracterizados como acidentes de trabalho, pois ocorrem na locomoção casa-trabalho-casa ou nas atividades próprias da moto, sendo, parte deles, atribuída a alta demanda ou sobrecarga do trabalho”, explica Washington Santos.

Washington José dos Santos afirma que “as mortes de condutores e passageiros de motocicletas no Brasil aumentaram de 1.028 para 8.529 (mais de 700%) entre 1998 e 2008 e que as mortes por acidente de trânsito de motos, no país, contribuíram com 33,9% de mortes por acidentes em 2011, enquanto que, em 1996, o percentual era de apenas 4%”.

Em 11 anos, o crescimento da mortalidade em Pernambuco por acidente motociclístico  foi de 428%. chegando, inclusive, a ultrapassar o crescimento no Brasil, que foi de 327% entre os anos 2001 e 2010.

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